Você Conhece as Principais Técnicas Alternativas de Restauração Florestal?

Durante a etapa de planejamento de um projeto de restauração florestal, uma das principais definições consiste na escolha das técnicas que serão empregadas. O plantio de mudas em área total, também conhecido como reflorestamento tradicional, permanece sendo um dos métodos de restauração florestal mais difundidos. Este método é marcado pelo uso de práticas adotadas e conhecimentos adquiridos na silvicultura de eucalipto e de pinus, como espaçamento pré-determinado, adubações e controle de matocompetição. Como consequência, de forma geral, os custos são elevados, podendo atuar como fator limitante na condução de projetos de restauração.

Por mais que o plantio de mudas tenha sua importância, sendo o mais indicado em muitas situações, é importante destacar que existem vários outros métodos que devem ser considerados durante o processo de tomada de decisão. O desenvolvimento e uso de técnicas alternativas ao reflorestamento tradicional, vem da necessidade de adaptar as atividades de restauração aos diferentes filtros ambientais e ao potencial de autorrecuperação (resiliência) do local e da paisagem. Assim, escolhas mais assertivas, implicam em custos reduzidos e atingimento dos objetivos em menor tempo, contribuindo para o cumprimento da legislação e dos compromissos internacionais.

Confira, a seguir, as principais técnicas alternativas de restauração florestal e em quais condições cada uma delas é mais indicada.

 

Regeneração natural

A regeneração natural, também conhecida como restauração passiva, se refere ao processo pelo qual um ecossistema impactado por distúrbios naturais ou antrópicos recupera, de forma total ou parcial, sua biodiversidade, estrutura e funcionalidade, por meio de uma sequência sucessional ao longo do tempo. Ou seja, a regeneração natural é desencadeada pelo próprio ecossistema, não sendo dependente de intervenções antrópicas diretas para ocorrer. Por esse fato, se trata do método de restauração mais barato e ecológico. A ocorrência da regeneração natural é dependente de diferentes fatores, como histórico de uso da terra e proximidade de fragmentos florestais. Dessa forma, a regeneração natural tende a ocorrer em áreas com solos não degradados e que estejam inseridas em paisagens com predomínio de florestas nativas bem conservadas.

 

Área em processo de regeneração natural. Foto: Sebastião Venâncio Martins.

 

Regeneração Natural Assistida (RNA) ou Condução da Regeneração Natural

Em certas situações, a regeneração natural precisa receber intervenções para ser estimulada. Assim, denominamos de regeneração natural assistida quando uma série de ações são realizadas para dar suporte e conduzir o processo de regeneração natural. Dentre essas ações, podemos destacar o enriquecimento, controle de espécies exóticas e/ou invasoras, controle de formigas, adubação de cobertura, tutoramento e coroamento dos regenerantes.

 

Nucleação

As técnicas de nucleação visam imitar um processo que já é realizado pela natureza, no qual uma espécie ou grupo de espécies pioneiras colonizam e melhoram porções de uma área, facilitando a entrada de outras espécies. Com o tempo, essas porções ou “ilhas” avançam e se unem até uma condição florestal. Confira, na sequência, as técnicas de nucleação mais usadas.

  • Plantio de mudas em núcleos: este método é mais indicado para áreas que já possuem um processo de regeneração, como capoeiras e pastos sujos, com o objetivo de acelerar o avanço da restauração. Além disso, os núcleos de mudas também podem ser empregados no enriquecimento do sub-bosque de reflorestamentos tradicionais, a partir do plantio de mudas de espécies de diversidade.  Existem diferentes modelos de núcleos, variando o número de mudas e o espaçamento entre elas. Um dos mais usados consiste no plantio de cinco mudas por núcleo, sendo quatro plantadas nas extremidades de um quadrado de 1,0 a 1,5 metros de largura e uma no centro.

 

Plantio de mudas em núcleos com cinco indivíduos arbóreos. Foto: Sebastião Venâncio Martins.

 

  • Semeadura direta: se refere a dispersão artificial de sementes, que pode ser realizada em núcleos ou linhas. Vale destacar que esta técnica, quando necessário, precisa estar associada ao preparo prévio do solo, em decorrência das limitações impostas por solos degradados. No caso de áreas com alta cobertura de gramíneas exóticas invasoras, como as braquiárias (Urochloa spp.) e o capim gordura (Melinis minutiflora), deve-se realizar o controle químico ou mecânico anteriormente a semeadura. A semeadura direta também pode ser conduzida com o objetivo de promover o enriquecimento de áreas que já iniciaram seu processo de regeneração natural, visando aumentar a diversidade local e acelerar a restauração.

 

  • Transposição de solo e serapilheira: esta técnica consiste na deposição de solo e serapilheira provenientes de matas nativas, podendo ser realizada em núcleos, faixas ou recobrindo toda a área. A camada superficial de solo dos ecossistemas florestais (topsoil) e a serapilheira (conjunto de ramos, folhas e demais restos florestais) apresentam matéria orgânica, nutrientes, microrganismos e sementes. Dessa forma, poucas semanas após a transposição, ocorre a germinação das sementes, especialmente de espécies pioneiras, que recobrem o solo e dão início ao processo de sucessão. É importante destacar que a remoção de solo e serapilheira de florestas nativas é mais recomendada em áreas de supressão previamente autorizadas pelo licenciamento ambiental. Para a retirada em outros locais, o órgão ambiental competente deverá ser consultado.

 

Transposição de solo em faixas. Foto: Sebastião Venâncio Martins.

 

  • Transposição de galharias: nesta técnica, utiliza-se restos vegetais como raízes, cascas e galhos de arbustos e árvores, empilhados na forma de leiras ou pilhas. A galharia depositada serve de abrigo para pequenos animais e insetos, que podem dispersar sementes de outros locais. A partir dos núcleos, temos um microssítio favorável para germinação dessas sementes e para o crescimento inicial das plântulas. Conforme descrito para a técnica de nucleação anterior, esse material pode ser obtido em áreas cuja supressão foi autorizada pelo órgão ambiental.

 

Núcleo formado por meio de transposição de galharias. Foto: Sebastião Venâncio Martins.

 

  • Poleiros artificiais: consistem em estruturas construídas com a finalidade de atrair o pouso de aves dispersoras de sementes. Vale destacar que o sucesso dos poleiros na formação de núcleos de regeneração depende de diversos fatores, como condições climáticas, cobertura do solo e tipo de substrato. Dessa forma, recomenda-se que esta técnica seja empregada de forma complementar as outras técnicas.

 

Poleiros artificiais de bambu. Foto: Sebastião Venâncio Martins.

 

É importante lembrar que todos os métodos de restauração florestal têm sua importância e que não existe um método melhor que o outro. Cada área a ser restaurada irá necessitar de um tratamento específico, podendo envolver o uso de uma ou mais técnicas de restauração florestal.

 

Referências

MARTINS, S. V. Alternative forest restoration techniques. In: VIANA, H.; GARCÍAMOROTE, A. (Eds.). New perspectives in forest science. London: IntechOpen, 2018. cap. 7, p. 131-148.

MARTINS, S. V. Restauração Florestal. Boletim de Extensão 67. Viçosa: Editora UFV, 2020.

 

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