Corredores Ecológicos como Estratégia para Conectar Fragmentos Florestais

 

A fragmentação é um processo que ocorre naturalmente no meio ambiente, mas tem sido intensificada em resposta as atividades humanas. Em razão dos impactos negativos causados pela fragmentação de causas antrópicas, diversas estratégias podem ser implementadas com o objetivo de mitigar tais impactos e garantir a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Dentre essas ações, podemos destacar a conexão de fragmentos por meio dos corredores ecológicos. Confira, neste post, as principais causas e impactos da fragmentação e quais os principais fatores que devem ser considerados na implementação dos corredores ecológicos.

 

Fragmentos florestais de Mata Atlântica no Nordeste do Brasil. Foto: Mateus Dantas de Paula. Fonte: Funverde.

 

Fragmentação: Definição e Principais Causas

A fragmentação se trata do processo de dividir o todo em partes. No contexto da fragmentação de ecossistemas, um habitat contínuo é separado em fragmentos mais ou menos isolados, formando machas do habitat original. A fragmentação pode ser desencadeada por duas causas distintas: naturais e antrópicas. Entender e saber identificar a diferença entre essas causas é fundamental para traçar as estratégias de conservação mais adequadas para cada caso.

Causas naturais da fragmentação

Naturalmente, o mundo não é homogêneo. Em consequência do aquecimento desigual da terra, das variações climáticas e edáficas, o planeta é composto por um mosaico de condições distintas. Nesse sentido, existem fatores que produzem fragmentos naturais. Tais fatores podem atuar de forma isolada ou conjuntamente, destacando-se as flutuações climáticas, heterogeneidade dos solos, topografia, processos hidrogeológicos e processos de sedimentação e hidrodinâmica em rios e no mar. Mas como saber se um fragmento é natural? O processo de fragmentação natural precisa de um período muito mais longo para ocorrer do que a fragmentação resultante das ações antrópicas. Inclusive, a fragmentação natural é importante na geração de diversidade biológica. No Brasil, podemos exemplificar fragmentos naturais já conhecidos, como as Savanas Amazônicas e os Capões de Mata de Araucária nos Campos Sulinos.

Causas antrópicas da fragmentação

Diversas atividades humanas tem a capacidade de produzir fragmentos antrópicos, como o desmatamento, incêndios, agropecuária, urbanização e implantação de infraestrutura de transportes, energia e saneamento. Com isso, sistemas ecológicos são simplificados, a promoção dos serviços ecossistêmicos é reduzida e a biodiversidade é ameaçada. A redução da área original dos habitats prejudica as espécies que demandam uma maior área para sua sobrevivência e reprodução, levando ao risco de extinção. Além disso, os indivíduos isolados muitas vezes não serão capazes de se reproduzir e, caso seja possível, a reprodução ocorrerá entre poucos indivíduos, podendo promover a perda de adaptabilidade da espécie diante de condições adversas. Por meio das modificações na composição e na abundância de espécies, processos naturais da comunidade podem ser alterados e perdidos, comprometendo, por exemplo, a polinização e a dispersão de sementes por animais.

Observação importante

Na definição e execução de políticas públicas de conservação, é crucial fazer uma distinção clara entre fragmentos naturais e fragmentos antrópicos. Alguns fragmentos naturais merecem prioridade na conservação devido à presença de espécies endêmicas e populações distintas. Nesse contexto, fragmentos naturais devem ser preservados, pois a conexão com outros fragmentos poderia prejudicar o ecossistema.

 

Corredores Ecológicos

O uso de corredores ecológicos como ferramenta para conservação de ecossistemas é mencionado desde a década de 1970. Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000), os corredores ecológicos são:

Porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.

 

Corredor ecológico em matriz de pastagem. Fonte: IPÊ.

 

A criação de corredores ecológicos exige planejamento cuidadoso, engajamento comunitário e esforços contínuos de monitoramento e manutenção. Para alcançar os objetivos de conservação da biodiversidade, conectividade de habitats e equilíbrio socioeconômico, diversos fatores devem ser avaliados. Confira, a seguir, aspectos que precisam ser considerados nas etapas de planejamento, implantação, manutenção e monitoramento dos corredores ecológicos.

  1. Planejamento

  • Identificação de Unidades de Conservação e Fragmentos: Para determinar quais áreas precisam ser conectadas pelo corredor, é necessário localizar e mapear as unidades de conservação e os fragmentos de vegetação nativa existentes na região.
  • Diagnóstico da Biodiversidade: É fundamental levantar dados e informações sobre a composição de espécies e a diversidade da vegetação nativa regional, além de identificar espécies-chave que necessitam do corredor para garantir sua sobrevivência e movimentação.
  • Estudo da Paisagem: Análises detalhadas da paisagem precisam ser realizadas visando identificar barreiras naturais e antropogênicas.
  • Planejamento de Caminhos e Largura do Corredor: O corredor precisa ser capaz de promover a circulação segura e eficaz da fauna. Assim, é necessário determinar onde o corredor irá passar e qual é a largura adequada com base nas necessidades das espécies que estarão em movimento.
  • Engajamento das Partes Interessadas: Envolver comunidades locais, proprietários de terras, empresas e órgãos governamentais é essencial para obter apoio, mitigar conflitos e garantir a colaboração de todos os envolvidos.
  1. Implantação

  • Estratégias de Restauração Ecológica: A restauração de áreas degradadas ao longo do caminho do corredor contribui na melhoria da qualidade do habitat e permite a recuperação da biodiversidade, garantindo a criação de corredores mais resilientes e funcionais.
  • Implementação de Sistemas Agroflorestais: A adoção de sistemas agroflorestais, que combinam cultivos agrícolas e árvores nativas, pode ser uma alternativa viável para inserir o corredor em áreas produtivas. Essa abordagem auxilia a conservação da biodiversidade e promove a geração de renda para produtores rurais.
  • Incentivos Econômicos e Legislação Ambiental: A implementação dos corredores pode ser estimulada por meio de políticas públicas e programas que ofereçam incentivos econômicos aos proprietários de terras. Pagamentos por serviços ambientais e créditos de carbono são exemplos de mecanismos que podem estimular a participação voluntária na criação e manutenção dos corredores ecológicos.
  1. Manutenção e Monitoramento

  • Gestão Adaptativa: É importante adotar uma abordagem de gestão adaptativa, pois permite ajustar o planejamento e a implantação do corredor com base nas informações coletadas ao longo do tempo.
  • Manutenção da Conectividade: As ações de manutenção são fundamentais, uma vez que permitem assegurar a funcionalidade do corredor. Dessa forma, recomenda-se conduzir o controle de espécies invasoras, prevenir a ocorrência de incêndios, dentre outras atividades que sejam necessárias para garantir a integridade do corredor.
  • Monitoramento Contínuo: Como saber se os objetivos da criação do corredor foram atingidos com sucesso? Para responder essa pergunta, é necessário estabelecer um plano de monitoramento contínuo para avaliar a eficácia do corredor e a resposta das espécies-chave à sua implementação.

 

Referências

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Fragmentação de ecossistemas: causas, efeitos sobre a diversidade e recomendações de políticas públicas. Brasília: MMA/SBF, 2003. 510 p. (Série Biodiversidade, 6).

SEOANE, C. E. S.; DIAZ, V. S.; SANTOS, T. L. Corredores ecológicos como ferramenta para a desfragmentação de florestas tropicais. Pesquisa Florestal Brasileira, Colombo, v. 30, n. 63, p. 207-216, ago./out. 2010.

 

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