Taxonomia dos Bambus

 

Os Bambus são plantas certamente notáveis, mas sua taxonomia permanece pouco compreendida até os dias de hoje. A raridade do florescimento dessas plantas, que pode ocorrer em intervalos de 30 a 100 anos, adiciona uma camada adicional de complexidade à identificação das espécies (Scurlock et al., 2000).

A taxonomia dos Bambus é fortemente baseada em características vegetativas, como anatomia foliar e arranjo de feixes vasculares em bainhas e colmos foliares (Clark et al., 2007; Dev et al., 2020; Tewari, 1992). Devido a essa dependência de características visuais, o número real de espécies de Bambu é motivo de discussão entre os especialistas (Dallagnol, 2011).

Estudos de florística, taxonomia, filogenia e filogeografia são essenciais para o reconhecimento confiável das espécies de Bambu (Wiedman et al., 2017). Além disso, as análises moleculares baseadas em DNA têm ganhado destaque, oferecendo maior precisão na identificação de espécies existentes e até mesmo na descoberta de novas espécies. Essas abordagens ampliam nossa compreensão da variabilidade genética dos Bambus (Dev et al., 2020; Zappelini, 2022).

Os Bambus pertencem à família botânica Poaceae, uma das maiores famílias de angiospermas, abrigando aproximadamente 11.000 espécies distribuídas em 800 gêneros (Peterson, 2005; Schmidt e Longhi-Wagner, 2009). Dentro dessa família, encontramos a subfamília Bambusoideae, que inclui todas as espécies de Bambu, distribuídas em três tribos distintas: Arundinarieae, Bambuseae e Olyreae, cada uma com suas próprias características.

A tribo Olyreae é composta por Bambus herbáceos, enquanto a tribo Arundinarieae abriga Bambus lignificados de clima temperado. A tribo Bambuseae é a mais amplamente distribuída, composta por Bambus lignificados de clima tropical. No Brasil, encontramos representantes das tribos Olyreae e Bambuseae (Wiedman et al., 2017).

As peculiaridades não param por aí. Bambus da tribo Olyreae são monóicos, pluricárpicos, herbáceos e suas flores são unissexuadas. Enquanto isso, a tribo Bambuseae é principalmente composta por plantas monocárpicas e plurianuais, geralmente lignificadas, com diferenciação entre folhas dos colmos e dos ramos, e suas flores são bissexuadas. Essa diversidade nas tribos é um reflexo da riqueza das gramíneas Bambusáceas (Schmidt e Longhi-Wagner, 2009).

Estimativas do número total de espécies de Bambu variam, com alguns estudos apontando para cerca de 1.300 espécies em todo o mundo (Araújo et al., 2021; Baquim et al., 2021) e outros sugerindo números ainda maiores, como os registros científicos baseados em análises filogenéticas (Bamboo Phylogeny Group, 2012), que informam a existência de 119 gêneros com 1.482 espécies de Bambu. Gêneros conhecidos, como Bambusa, Dendrocalamus e Phyllostachys, são amplamente cultivados por suas múltiplas aplicações econômicas.

No Brasil, a diversidade de Bambus é significativa, com 258 espécies nativas distribuídas em duas tribos e 35 gêneros (Filgueiras et al., 2015). A proporção entre Bambus herbáceos e lenhosos é notável, com 17 gêneros e 93 espécies de Bambus herbáceos (tribo Olyreae) e 18 gêneros e 165 espécies de Bambus lenhosos (tribo Bambuseae). Dos gêneros de Bambus lenhosos nativos, pode-se dizer que apenas Actinocladum, Apoclada, Chusquea, Guadua e Merostachys têm, ou podem ter, uso potencial, o que deve ser melhor investigado (Londoño, 2002).

Apesar de toda essa riqueza, a cultura do Bambu no Brasil ainda é subutilizada devido à falta de tradição e conhecimento local (Wiedman et al., 2017). Espécies asiáticas, como Bambusa sp. e Dendrocalamus sp., ainda dominam o cenário econômico no país. À frente exploraremos mais profundamente as implicações desse cenário e as oportunidades que o Bambu oferece. Continue nos acompanhando!