Segurança do trabalho nas operações de colheita e transporte florestal

O setor florestal brasileiro tem como seus produtos principais celulose e papel, painéis de madeira, carvão vegetal, madeira serrada, lenha, pellets e biomassa e conta com uma área de 9 milhões de hectares de reflorestamentos (IBÁ, 2020). Aliado as condições edafoclimáticas, o setor florestal brasileiro vem experimentando constante desenvolvimento, levando a demandas cada vez maiores por produtos de base florestal. Mas, acima disso, a prioridade número um para qualquer empresa é garantir que o ambiente de trabalho seja o mais seguro possível.

Com a grande necessidade de madeira pelo mercado interno e externo, atualmente as empresas florestais demandam conhecimento, máquinas e equipamentos, o que permite obter uma boa produtividade nas plantações, porém, é necessário que haja um planejamento adequado do manejo, que deve ocorrer desde o momento de preparo do solo até a colheita, fase em que são necessários cuidados devido ao uso de máquinas de grande porte e condições da região, como declividade, precipitação, velocidade do vento, e particularidades do talhão a ser colhido. Com o uso das máquinas dentro dos diferentes sistemas de colheita, foi minimizado o risco, mas, necessitam ainda mais de atenção, por se tratarem de máquinas de grande porte, que, quando carregadas, podem chegar a pesar até 40 toneladas. Uma proteção importante para os operadores de máquinas florestais são as FOPs e ROPs que são: Fall Over Protection System e Roll Over Protection System, proteções contra queda de objetos e árvores e proteção contra capotamento, respectivamente. Com a maior conectividade em campo, a implementação da IoT pode servir como um programa típico de prevenção de acidentes, facilmente integrado ao sistema de segurança da empresa, facilitando, rapidamente, a localização do foco de incêndio e até mesmo locais onde se faça necessária a remoção de colaboradores.

Quando se trata de monitorar fatores internos e externos, os sensores fazem todo o sentido. Por exemplo, você pode coletar dados da IoT de dispositivos (capacetes, jaquetas e relógios) e combiná-los com sensores ambientais para monitorar o bem-estar dos trabalhadores e o estado do ambiente de trabalho. Ao rastrear indicadores de condicionamento físico, como batimentos cardíacos e temperatura da pele, os sensores podem ajudar a observar os funcionários que estão começando a mostrar tensão ou outros sinais de possíveis problemas, e podem ser tomadas medidas preventivas, principalmente agora que estamos vivenciando a pandemia relacionada à Covid-19. Os dados obtidos de temperatura, batimento cardíaco e nível de oxigênio no sangue, tornam-se informações de valor, propiciando que o colaborador tenha um atendimento mais rápido perante qualquer alteração.

Mas como evitar acidentes?

Primeiro é necessário compreender quais são as causas dos acidentes de trabalho nas operações de colheita florestal e também de transporte florestal:

Atos inseguros (inadequados) – são todos os procedimentos do homem que contrariem as normas de prevenção de acidentes:

Ficar junto ou sob cargas suspensas;
Colocar-se muito próximos a máquinas florestais em operação;
Operar máquinas ou equipamentos sem habilitação ou treinamento;
Realizar manutenções sem o bloqueio efetivo da energia e/ou teste de energia zero;
Excesso de velocidade nas vias rurais e urbanas;
Lubrificar ou ajustar máquinas em movimento;
Não uso de EPI’s;
Abastecimento de combustível em locais inadequados ou sem aterramento;
Não respeitar energias estáticas, de temperaturas e mecânicas.

Condições inseguras – são circunstâncias externas que influenciam o trabalho das pessoas de forma negativa, incompatíveis ou contrárias as normas de segurança e de prevenção de acidentes.

Áreas insuficientes, espaço mal dimensionado;
Máquinas e tratores com vibração acima do limite de tolerância;
Excesso de ruído, iluminação inadequada;
Localização imprópria das máquinas;
Falta de proteção em partes móveis e de agarramento;
Proteção insuficiente ou totalmente ausente.

Fator pessoa – é qualquer fator externo que leva o indivíduo à pratica do ato inseguro pela inadequação da percepção de risco.

Quando falamos do fator pessoa influenciar a percepção de riscos, devemos falar dos influenciadores do comportamento humano. São eles:

Fisiológicos – Saúde do corpo, bem-estar, alimentação, uso de medicamentos, uso abusivo de substâncias químicas.
Psicológico – Emoções, sentimentos, autoconfiança, crenças.
Cognitivo – Conhecer os riscos e perigos da atividade a ser executada.
Social – Relação com a liderança, entre colegas (clima de trabalho) e influências externas ao trabalho (família, preocupação, problemas financeiros, pandemia…).

A interação homem-máquina sempre gera uma preocupação quando falamos pela ótica da Segurança do Trabalho. Os maiores perigos associados as operações de colheita e extração florestal são:

Ruídos excessivos;
Exposição a temperaturas extremas;
Animais peçonhentos;
Talhões com declividade acentuados;
Queda de árvores;
Acidentes de tombamento de máquinas.

Quando falamos em acidentes, normalmente pensamos em investigar os Erros ou Violações de colaboradores. É muito importante considerar que uma empresa madura avalia a falha como um erro ou violação além da pessoa que “a priori” cometeu aquele erro. É necessário levar em consideração se houve negligência de regras, se foi situacional, se foi motivado ou estimulado pela solicitação de algum gestor, ou até mesmo se não é uma falha sistêmica. A pergunta que devemos fazer é a seguinte: Esta falha poderia acontecer com outro operador/colaborador? Se a resposta for sim, temos indícios importantes de oportunidades sistêmicas, de falta de papéis e responsabilidades, oportunidades em treinamentos, ou até mesmo falta de peças e otimização de processos que podem estar gerando acidentes sem que percebamos.

A riqueza de uma boa análise está em entender que a compreensão das Falhas Sistêmicas é o que de fato vão nos gerar os grandes aprendizados e evitar recorrências. E é preciso muita maturidade para detectar que as vezes a falha está na própria liderança. (Energy Institute, 2017)

No passado, as análises de acidentes se concentravam nos erros ativos dos operadores e das falhas técnicas, porém uma boa análise de um acidente detecta a falha do “não dito” no acidente, daquilo que é sistêmico, que é vivido todos os dias e por vezes “permitido” aos olhos de diversas pessoas. (Llory, 1991)

Antes de chegar à conclusão de que os operadores são os causadores dos acidentes, é preciso compreender se, eles não são herdeiros dos defeitos dos sistemas, criados por uma concepção ruim e que, por uma manutenção deficiente, ou por decisões errôneas acabaram por gerar um acidente. Duro, não é?

Pois é. Mas maturidade em Segurança é isto. Passar a entender que a responsabilidade é sim compartilhada, podemos ter erros e oportunidades na área de segurança que não viu, ou que “deixou passar”, na própria Colheita ou Logística.

É interessante pensar que um acidente é um sintoma, e ele demonstra que algo não está bem, e a equipe de segurança deve buscar compreender quais são estes fatores contribuintes que estão favorecendo esta “febre” chegar. E o segredo para a evolução em segurança que precisamos é que sejamos “Inconformados” no bom sentido da palavra, porque padrões e condições ruins são demonstrativos de permissividade. Além de também precisarmos ter um bom ouvido, ou seja, termos um diálogo aberto com os colaboradores oportunizando que tragam os problemas que não conseguem resolver, e ” entender a febre”.

O trabalho de uma pessoa é formado por um conjunto de conhecimentos, tarefas, atitudes e valores que influenciam no clima de trabalho de um módulo, por exemplo. (Geller, 2001) É importante ressaltar que normalmente quando um colaborador comete um ato inseguro, passa por um clima de trabalho permissivo e até mesmo negligente de questões de segurança…

O grande desafio está em detectar os erros sistêmicos de uma organização, descobrir e neutralizar tais erros traz resultados mais benéficos na confiabilidade dos sistemas do que as tentativas pontuais de redução de erros ativos e pontuais. (Llory, 2017)

Implementar melhorias em uma cultura de promoção da segurança é um processo lento e que exige, entre outros esforços, um grande investimento em tecnologia, sistemas e em aspectos humanos. (Geller, 2001)

Para o desenvolvimento de comportamentos seguros e a manutenção de elevados níveis de percepção de riscos é necessário, antes de tudo, um significativo envolvimento por parte de todos: a liderança, os colegas de trabalho, a área de segurança e da organização como um todo. (Geller, 2001) É preciso criar condições (físicas, sociais, gerenciais e culturais) que privilegiem o aparecimento e a manutenção das melhores práticas em prevenção no dia a dia das operações florestais.

E aqui cabe uma reflexão mais ampla do ponto de vista de construção de uma cultura de segurança, para a redução das ocorrências no trânsito e no Transporte de Madeiras. No livro Handbook of Traffic Psychology (2001), fala-se no conceito do Triângulo dos três E´s da Prevenção, que são eles: “education” “enforcement” e “engineering” que em português são, educação, fiscalização, engenharia.

Fala-se que deve-se investir de forma igualitária nos 3 E´s para que se tenha manuteção da segurança viária.

Para o contexto da “educação” ele é entendido de duas formas: a primeira é a formação do condutor que tem o intuito de passar informações claras desde a prática da direção assim como regras e procedimentos que deve seguir para uma condução segura no trânsito; e a segunda parte são as campanhas de conscientização contra o excesso de velocidade, promoção de uma condução segura, atenção concentrada, prevenção de álcool e drogas, entre outras. (Groeger J. A., 2011)

Quando falamos em fiscalização, que em inglês é conhecido como enforcement é uma das práticas mais importantes e determinantes na redução dos comportamentos de risco no trânsito, pois é o que condiciona o ser humano na emissão de comportamentos mais seguros no trânsito, e isto pode ser feito através de blitz, monitoramentos de fadiga e sono, alertas de velocidade, etc (May,2011)

E o último fator é a engenharia e toda a tecnologia e confiabilidade que ela pode trazer para a Segurança Viária. A ótica da implementação da engenharia passa pelo desempenho na frenagem dos veículos, melhorias na proteção oferecida aos ocupantes dos caminhões e também por melhorias nos projetos de estradas, geometrias das vias e, ainda mais em um contexto florestal, não há como não falar na qualidade dos materiais utilizados nas vias rurais oportunizando redução na deterioração das mesmas oferecendo mais segurança para o condutor e as comunidades. (Elvik & Greibe, 2005)

Como a IoT entra nisso?

Imagine acompanhar o estado de saúde de seu colaborador de forma online, conseguindo determinar variações de temperatura, respiração e batimentos cardíacos, com a IoT isso é possível. Ela permite o monitoramento remoto da força de trabalho de campo móvel de maneira não intrusiva e eficaz, prometendo melhorias significativas na segurança do trabalhador industrial. Regulamentos robustos e treinamento extensivo juntamente com equipamentos de segurança pessoal (EPI) são vitais; no entanto, essas práticas não informam aos trabalhadores quando ambientes externos se tornam perigosos repentinamente. Por exemplo: os fabricantes de roupas de trabalho de IoT vestíveis vêm defendendo o valor das roupas habilitadas para IoT há algum tempo, pois permite que os gerentes de instalações mantenham um olho nos sinais vitais de seus funcionários enquanto realizam seu trabalho.

Emergência Mais Rápida

Os hardwares e aplicativos conversam entre si para alertar os funcionários e os supervisores sobre as possibilidades de riscos em tempo real. Por exemplo, quando um trabalhador desmaia repentinamente, alertas são acionados no centro de controle de segurança para o envio de auxílios médicos.

Possíveis incêndios, a IoT, através de sensores, acompanha a temperatura de partes da máquina informando se está em conformidade ou não e quando não atende o especificado envia uma mensagem automática ao modulo de emergência para acompanhamento. A prevenção de acidentes em larga escala sempre foi uma grande preocupação para as empresas, o que levou algumas a adotarem um cronograma de manutenção com base no tempo. Embora essa estratégia tenha ajudado a reduzir falhas sérias e inesperadas, também pode resultar na substituição de componentes da máquina que ainda não se desgastaram.

De acordo com um artigo publicado pela Automation World (2018), muitos fornecedores de automação começaram a incorporar recursos aprimorados de segurança e monitoramento em seus sistemas principais, em vez de implementá-los durante a fase de pós-produção. Ao incorporar medidas de segurança passivas em sua lógica de máquinas de equipamentos, os fabricantes de equipamentos esperam apoiar estratégias de manutenção preditiva que permitam menos tempo de inatividade sem comprometer o bem-estar dos operadores de equipamentos.

O que as empresas florestais têm feito?

Detecção de redes elétricas

Não é novidade para muitas empresas florestais o desafio de transportar máquinas florestais por entre cidades e vilarejos onde normalmente as fiações de redes elétricas e fibra ótica são, por diversas vezes, mais baixas do que as permitidas pela legislação. Desta forma, buscamos uma tecnologia que detecta campos elétricos antes que o caminhão e/ou máquina venha a fazer contato com ela e causar um acidente ou incidente.

EPI Fácil

O nosso grande desafio na organização de entregas de EPIs de forma ágil, segura e mantendo tudo que a legislação preconiza. Imagine você conseguir fazer tudo isto, através de um tablete com o QRCode do funcionário e a entrega ser direta lá no campo. Sim, isto já é possível e acontece por aí.

App | Relato de Segurança Offline

Sabemos que para a prevenção de acidentes, é preciso atacar nos desvios e tratá-los da forma mais rápida para que ele não se torne um acidente de fato. Imagine poder relatar uma condição insegura, ou até mesmo uma melhoria detectada lá no campo através de um aplicativo offline, que assim que tenha rede ele sincroniza e este relato é encaminhado de forma automática para o responsável para tratar aquela melhoria.

Tecnologia Embarcada para Monitoramento de Fadiga, Sono e Velocidade nos Caminhões

Para ajudar na redução de emissão de comportamentos de risco no trânsito, há disponível hoje nos caminhões, tecnologias embarcadas nos caminhões que monitoram velocidade e até mesmo fadiga e sono dos motoristas. Desta forma, auxilia através de sinais sonoros dentro da cabine do caminhão alertas para que o motorista fique atento à determinadas situações de risco que podem acontecer com os motoristas para que ele tome as decisões seguras no volante.

Fontes utilizadas:

Relatório – Indústria Brasileira de Árvores

Worker safety: what, why and how IoT and AI can help

IoT for Worker Safety: 3 Applications That Will Transform Your Workplace

How to Improve Workplace Safety with IoT

How IoT devices are improving workplace safety

Geller, S.The Psychology of Safety Handbook, 2001, CRC Press.

https://heartsandminds.energyinst.org/

Llory, M. Acidentes Industriais: O custo do silêncio, 1999. Multi Ação Editorial

May, J. (2007). Driver Fatigue, Handbook of Traffic Psychology (pp. 287-297). Norfolk, Estados Unidos: Elsevier Inc. doi:10.1016/B978-0-12-381984-0.10021-9

Groeger, J. A. (2011). How Many E’s in Road Safety? Em B. E. Porter, Handbook of Traffic Psychology (pp. 3-12). Elsevier Inc.

How Industrial Networks are Changing