FMEA pode ser aplicada ao setor florestal?

 

Desde o século XX, a gestão da qualidade vem passando por um longo processo de evolução. A série ISO 9000 e Gestão da Qualidade Total (TQM – Total Quality Management) são resultados diretos dessa evolução.

Para Carvalho e Paladini (2005), antes vista como simples conjunto de ações operacionais, centradas e focadas em pequenas melhorias do processo produtivo, a qualidade passou a ser entendida como um dos elementos fundamentais do gerenciamento das organizações, tornando-se fator crítico, não só das empresas, bem como de produtos, processos e pessoas. Esta nova perspectiva do conceito e da função básica da qualidade decorre diretamente da crescente concorrência entre as organizações.

De modo geral, a gestão da qualidade engloba um conjunto de estratégias para que as empresas se mantenham competitivas no mercado, já que através dela é possível diminuir falhas de processos e aumentar a produtividade, tudo isso num ciclo de melhoria contínua.

 

Sobre a FMEA

Para atingir os objetivos de Gestão da Qualidade, foram desenvolvidas ferramentas com o foco na padronização de processos e produtos e, a utilização de cada uma delas, irá variar de acordo com a necessidade de cada empresa e processo produtivo. O FMEA é uma das opções possíveis de ser utilizada em diferentes situações.

A sigla FMEA significa “Failure Mode and Effect Analysis”, em português, “Análise de Modos de Falha e seus Efeitos”. A metodologia se baseia em analisar as falhas do processo, o porquê elas ocorrem e quais as consequências dessas falhas para a produção, podendo-se tomar ações em tempo hábil para correção de eventuais falhas.

Para Doyle (2020), o FMEA, muitas vezes, atua como uma medida preventiva. Sua grande vantagem é a possibilidade de diminuir a frequência de falhas ou até mesmo eliminá-las. Os produtos e processos, consequentemente, tornam-se mais assertivos, com foco sempre na melhoria contínua.

 

A aplicação da técnica consiste em dois estágios. Durante o primeiro estágio, possíveis modos de falhas de um produto ou processo e seus efeitos prejudiciais são identificados. Durante o segundo estágio, os times que trabalharam com o FMEA determinam o nível crítico (pontuação de risco) destas falhas e as colocam em ordem. Através de três fatores (ocorrência, detecção e severidade), é realizada uma hierarquização de acordo com o risco potencial, representado no FMEA através do RPN (Risk Priority Number). A partir daí, são planejadas ações de modo a mitigar possíveis riscos e assim, reduzir preventivamente a possibilidade de falhas no processo.

A apresentação da ferramenta FMEA pode se dar no formato de formulários físicos ou digitais. Nesses formulários reúnem-se todas as informações relevantes da ferramenta para facilitar no seu desenvolvimento, análise e interpretação (AGQ, 2006).

Para analisar os riscos através da FMEA, podem ser utilizados fluxogramas, gráficos, tabelas, mapas mentais, instruções de processo e entre outras ferramentas importantes neste processo.

 

 

FMEA e o setor florestal

O FMEA já é muito consolidado e utilizado na indústria. Porém, o setor florestal ainda necessita de estudos dedicados à gestão empresarial com foco em aumento de produtividade e melhor aproveitamento da matriz florestal por meio da melhoria de processos. Na agricultura, a técnica já está sendo utilizada com resultados positivos.

Como exemplo, Voltarelli, et al., 2018, utilizaram o FMEA para identificar os indicadores críticos de qualidade e, assim, desenvolver um plano de melhoria contínua para a colheita de tarugos de cana-de-açúcar. Nesse trabalho, foi possível reduzir a variabilidade dos tarugos da cultura, possibilitando assim a adequação aos padrões de qualidade exigidos.

Nesse mesmo sentido, Wenceslau e Rocha (2012), ao avaliarem a eficiência da utilização do FMEA para implantação de um sistema de identificação de falhas e consequentemente a implantação de um sistema de Gestão Ambiental em uma agroindústria de Arroz, concluíram que a ferramenta foi muito eficiente na identificação de aspectos e impactos ambientais da produção e possibilitou a elaboração de ações para mitigar os riscos eminentes do processo.

Dessa forma, entendemos que a técnica seria crucial para a melhoria de processos do setor florestal. Os desafios relacionados à Gestão da Qualidade são grandes, mas o retorno em produtividade e melhoria contínua são valiosos!

Esperamos que essa matéria tenha contribuído com os seus conhecimentos sobre a aplicabilidade da FMEA para o setor e o quanto podemos evoluir nesse sentido. Continue ligado no blog do GT Qualidade, aqui sempre temos novidades para você!

 

 

Nathália Lima

Mestre em Economia Florestal com foco em Gestão

Coordenadora Operacional do GT Qualidade Florestal

 

 

 

 

Fontes:

ASSOCIAÇÃO GAÚCHA PARA A QUALIDADE – AGQ. (2006) Curso FMEA: Análise de modo e efeitos de falha em potencial. 3. ed. Novo Hamburgo: AGQ. 48 p.

CARVALHO, M. M.; PALADINI, E.P. (Org.) Gestão da Qualidade: Teoria e Casos. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2005, 376 p.

DOYLE, D. O que é FMEA. Disponível em: https://www.siteware.com.br/qualidade/o-que-efmea/. Acesso em: 10 mai. 2020.

VOLTARELLI, Murilo A. et al. Failure mode and effect analysis (FMEA) in mechanized harvest of sugarcane billets.Eng. Agríc., Jaboticabal ,v. 38,n. 1,p. 88-96,Jan. 2018.

WENCESLAU, Franclin Ferreira; ROCHA, Jefferson Marçal da. A ferramenta de análise FMEA comosuporte para a identificação dos aspectos e impactos ambientais em uma agroindústria de Arroz. Tecno-Lógica, Santa Cruz do Sul, v. 16, n. 1, p. 56-66, jul. 2012.