Por que monitorar?
A restauração é tradicionalmente dividida em três grandes etapas: implantação, manutenção e monitoramento. Embora tenha sido muito negligenciado no passado, hoje o monitoramento tem ganhado cada vez mais atenção. Ele consiste em avaliações progressivas dos atributos do ecossistema em restauração para verificar se os objetivos estão sendo alcançados. Os principais fatores que impulsionam o foco no monitoramento são a possibilidade de corrigir a trajetória de uma área em restauração e a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos em projetos futuros.
Através do monitoramento na fase inicial da restauração, por exemplo, é possível identificar o nível de sobrevivência de mudas e entrar com ações corretivas quando necessário, minimizando a perda de recursos. Esse tipo de monitoramento já foi base de aprendizado para os modelos de restauração atuais. Isso porque foi observado que não é positivo tentar replicar florestas em estágios avançados, pois as espécies presentes nesses estágios não se desenvolvem bem em plantio a pleno sol.
No caso de avaliação em idades mais avançadas, o monitoramento também pode indicar a necessidade de intervenções para garantir a autossustentabilidade do sistema. Ainda há muito que se evoluir no monitoramento em longo prazo, especialmente em torna-lo operacional, mas ele é essencial, pois refletirá se as ações tomadas lá no início do processo de restauração e no decorrer do tempo estão sendo efetivas em resgatar as características essenciais do ecossistema que se visa restaurar.
O monitoramento em idades avançadas foi o responsável por superar paradigmas antigos da restauração. A crença de que o plantio de mudas garante a restauração, por exemplo, caiu por terra quando estudos mostraram que áreas com boa cobertura florestal poderiam não ser sustentáveis devido à ausência de indivíduos regenerantes e de fauna. O mais importante hoje e o que se busca de fato é garantir que a floresta formada tenha uma série de características funcionais que garantam os processos ecológicos (como espécies zoocóricas que servem de alimento aos animais e incentivam a dispersão, espécies fixadoras de nitrogênio que adicionam este nutriente ao sistema através de simbiose com microrganismos, etc).
O monitoramento é realizado através de indicadores, que são atributos ambientais capazes de refletir a atual situação da área em processo de restauração, e cujos resultados são comparados com valores de referência. Embora o universo de indicadores que podem ser avaliados seja excessivamente extenso, os bioindicadores são um conjunto em particular capazes de fornecer uma visão confiável da autossustentabilidade das áreas em restauração.
Uso de bioindicadores na restauração
Bioindicadores são aqueles indicadores relacionados com o meio biótico, representados por um conjunto de atributos ou espécies capazes de medir a qualidade de um ambiente e avaliar mudanças sofridas ao longo do tempo. Dentre desse conjunto, destacam-se os bioindicadores vegetativos, que são muitas vezes preferidos devido à maior facilidade de mensuração.
A composição florística e estrutura fitossociológica do estrato adulto, do estrato de regeneração e do banco de sementes do solo, a produção e decomposição de serapilheira, a abertura do dossel, as classes sucessionais e as síndromes de dispersão das espécies da área em restauração são alguns dos bioindicadores vegetativos utilizados. Eles permitem inferir sobre a integridade ecológica do ecossistema, pois representam atributos e processos responsáveis pela perpetuação da floresta ao longo do tempo.
De forma complementar, a fauna também tem sido utilizada como bioindicador para inferir sobre o sucesso da restauração. Entre as principais classes de animais estudadas no ramo da restauração de ecossistemas, podemos citar as aves, os mamíferos, os insetos, os aracnídeos, os anfíbios e os répteis. Embora a presença e composição desses grupos tenha uma alta influência para a integridade ecológica, sua mensuração e estabelecimento de valores de referência é mais complexa, principalmente em pequenas áreas.
Um terceiro grupo de bioindicadores diz respeito aos microrganismos, os quais possuem diversas funções ecológicas como ciclagem de nutrientes e interações (positivas e negativas) com os outros grupos. Contudo, a complexidade de se trabalhar com microrganismos e algumas lacunas no conhecimento tornam esse grupo menos explorado pelo monitoramento.
De todo modo, os bioindicadores podem ser amplamente utilizados, pois é muito provável que bons resultados obtidos nestes implica boas condições em indicadores do meio físico (relacionados a solo e água, por exemplo) e do meio antrópico (relacionados a distúrbios como fogo e desmatamento, por exemplo). Além disso, os bioindicadores vegetativos se destacam devido ao fato de que uma boa estrutura florestal torna possível a colonização por animais e microrganismos.
Abaixo estão relacionados alguns trabalhos sobre bioindicadores desenvolvidos pelo Laboratório de Restauração Florestal (LARF/UFV):
- Soil seed banks in a forest under restoration and in a reference ecosystem in Southeastern Brazil
- Relationship between soil seed bank and canopy coverage in a mined area
- Phytosociological study to define restoration measures in a mined area in Minas Gerais, Brazil
- Estoque de serapilheira em uma floresta em processo de restauração após mineração de bauxita
- Avifauna como bioindicadora para avaliação da restauração florestal: estudo de caso em uma floresta restaurada com 40 anos em Viçosa – MG
- Avifauna em florestas em processo de restauração pós-mineração de bauxita em Minas Gerais
- Insecta e Collembola de serapilheira como bioindicadores de restauração ecológica no Parque Nacional da Serra do Itajaí, SC
Luiz Henrique Cosimo
Engenheiro Florestal
Coordenador Operacional GT Restauração
Sebastião Venâncio Martins
Prof. Titular DEF/UFV
Líder Técnico GT Restauração