Colheita em áreas declivosas
As áreas com alta declividade não são muito utilizadas no setor agrícola para implantação de culturas. Grande parte dessas áreas são utilizadas para implantação de floresta, trazendo para o setor grandes desafios, desde o preparo de solo à colheita, dificultando a extração e o transporte florestal. A declividade do terreno é uma das variáveis mais importantes no grau de mecanização da colheita, sendo que, o avanço tecnológico nos últimos anos vem permitindo o avanço da colheita mecanizada em áreas cada vez mais declivosas. Sendo uma das operações de mais alto custo no processo de produção de uma empresa florestal, podendo chegar a 50% ou mais do custo final.
Por esse motivo, todo sistema de colheita necessita de uma avaliação de rendimento, para uma análise eficiente das viabilidades técnicas e econômicas, assim como, máquinas, equipamentos e recursos disponíveis. Grande parte das áreas com culturas florestais são acidentadas e oferecem dificuldade de realizar operações de forma mecanizada, o que traz como consequência aumento na demanda de mão de obra nas atividades florestais, ou quando mecanizadas, podem reduzir a produtividade. O deslocamento dos trabalhadores em áreas acidentadas, o alto desgaste físico das operações, o perigo de acidentes e o baixo índice de conforto térmico têm como consequência problemas de sobrecarga física e metabólica dos trabalhadores. Exigindo um nível de planejamento mais apurado, bem como o desenvolvimento de equipamentos específicos para a colheita de culturas florestais na tentativa de redução de custos para que haja um crescimento na produtividade e assegurar o abastecimento da indústria.
Os sistemas de colheita
As máquinas são utilizadas de acordo com o sistema de colheita que podem ser classificados de acordo com a matéria-prima: (i) toras curtas, (ii) toras longas, (iii) árvores inteiras e (iv) árvores completas (MACHADO 2014). O sistema de toras curtas (cut to length – CTL) e Full Tree, muito comum em áreas planas também é adotado em áreas declivosa, porém, com adaptações e evoluções técnicas que permitem o trabalho em situações com o terreno declivoso.
SISTEMA CUT TO LENGH (CTL)
O sistema CTL de forma manual ou semimecanizado raramente é utilizado em áreas declivosas, porém, nas últimas décadas a evolução do maquinário de colheita permitiu um avanço enorme neste sistema de colheita no método mecanizado.
- Ancoramento: A máquina é ancorada em cepas pré-definidas de acordo com a classe diamétrica e tipo de solo para alocar os cabos de fixação, conforme a figura acima. As cepas são definidas de acordo a vigorosidade, o cabo e passado sobre duas, de modo que ofereça maior segurança ao operador.
- Guincho: O guincho é acoplado em máquinas de corte e extração, tem a finalidade de oferecer maior tração para as máquinas. Alguns possuem capacidade de até 14 ton, evidenciando sua importância como auxílio para tração das máquinas, visto que as máquinas de corte possuem em média 20 ton, e as de extração quando carregadas de até 40 ton.
- Corte: É realizado com o harvester, geralmente no eito de corte de 3, 4 e até 5 árvores, realizando todo o processamento na área (derrubada, destopamento, descascamento e traçamento).
- Extração: Pode ser realizada de duas formas. Caso a área forneça condições do escoamento pela parte baixa, sendo mais viável, ou o escoamento morro acima, onde é utilizada a operação com o guincho acoplado as máquinas. O forwarder completa sua carga ao final da rota de extração e retorna a borda do talhão para descarregamento, geralmente possui rodados de pneus equipado com semiesteiras, garra com capacidade máxima de 1 ton e distância de até 9 m, podendo variar de acordo com o modelo.
SISTEMA FULL TREE
O sistema Full Tree historicamente foi mais utilizado em áreas declivosas, sendo também realizado de forma manual, semimecanizado e, recentemente, também com evoluções significativas na mecanização do sistema.
Método Misto:
Neste método, exemplificado abaixo, as operações podem ser realizadas de forma mista, onde ocorre o sistema mecanizado e semimecanizado em diversas partes da operação. Atualmente ainda é muito comum, especialmente no sul do país, em áreas extremamente declivosas e dependendo do volume de colheita anual do empreendimento florestal.
- Derrubada – com motosserra (semimecanizada): O operador abate as árvores direcionando a queda. Esta operação é executada por motosserristas que realizam a derrubada, com geralmente uma distância mínima de duas árvores e meia, mantendo a segurança durante a realização da derrubada. O corte é realizado o mais baixo possível, de modo a evitar problemas operacionais durante a extração com a altura de toco, como o travamento das árvores.
- Arraste (semimecanizado): Com trator agrícola adaptado com guincho florestal, um trabalhador amarra as árvores, com uma corrente, no cabo de aço do trator, que faz a extração arrastando às árvores até os pátios de processamento.
- Processamento (mecanizado): Depois que as árvores são arrastadas para a área de processamento (pátios na beira das estradas), as máquinas harvester fazem o processamento da madeira. Na cultura do pinus, geralmente a madeira é separada em 3 ou até 4 sortimentos.
- Carregamento (mecanizado): Depois de processada, a madeira é carregada para o transporte com os carregadores. Também podem ser utilizadas as carretas acopladas aos tratores carregadores para em alguns casos baldear a madeira que se encontra em locais onde é muito difícil transitar com os caminhões devido às adversidades das áreas declivosas.
Outro método misto bastante comum de colheita no sistema Full Tree é o sistema com torres e cabos aéreos para extração, no entanto, no Brasil, este sistema atualmente vem perdendo espaço para sistemas 100% mecanizados.
O fato de serem vistos como alternativas para a extração em terrenos declivosos, o método semimecanizado não elimina o uso de mão de obra no local, que é para amarração das toras nos cabos, o que pode ocasionar risco de acidentes e lesões por elevado esforço físico. Outro fator ainda seria a danificação da madeira, em razão do contato das mesmas com tocos da derrubada e de outros obstáculos, ocasionando danos as cepas quando são áreas de condução.
Método mecanizado
Neste método se utiliza uma máquina base para ancorar e tracionar com um cabo de aço as máquinas que farão o corte e extração das árvores.
Corte: A operação de corte, acúmulo e formação dos feixes, é realizada pelo feller buncher ou Shovel Logger, deslocando-se no sentido do plantio. O eito de trabalho pode possuir uma largura total de 9 metros, sendo composto, geralmente, por 3 linhas de árvores. Os feixes são depositados formando ângulo de 90° em relação a direção do deslocamento da máquina, ou diferente dependendo da declividade. A declividade do terreno, tempo de experiência e treinamento dos operadores influenciam diretamente no rendimento.
Extração: O skidder carrega a garra e inicia o deslocamento com a carga suspensa em direção à margem da estrada. Esta atividade com skidder é mais dificultosa com o aumento da declividade, desta forma, o Shovel Logger é utilizado também para extração em situações mais extremas.
O operador tem papel fundamental em todo o processo, tendo sua habilidade refletida diretamente no rendimento operacional. Em áreas declivosas, comumente, são selecionados os operadores mais experientes e habilidosos, reduzindo assim o risco em relação a possíveis acidentes e mantendo uma boa produtividade. O investimento em treinamento da equipe também é fundamental.
As dificuldades operacionais da colheita são imensas em áreas planas, em áreas declivosas são muito maiores, exigindo um microplanejamento versátil de acordo a diversas situações, uma restritiva é o período de chuva e grandes períodos de precipitações, que podem inviabilizar a operação, alta precipitação encharca o solo, reduzindo o atrito entre a máquina e o solo, reduzindo a segurança e viabilidade, tanto na parte de corte, como extração, independente do sistema adotado. Portanto o planejamento com base no regime pluviométrico é fundamental, o transporte e descarregamento do comboio em talhões que não serão colhidos em sua totalidade oneram a operação que já e um processo bem caro, sendo refletido no produto final. Nesses casos são adotadas áreas de “escape”, são melhores condições que são deixadas de reserva para serem colhidas em período de intempéries que podem causar transtornos as operações florestais. Uma equipe capacitada, treinada e experiente em trabalhos em terrenos declivosos também é fundamental para o sucesso da operação com qualidade e segurança.
Tem interesse em saber mais? Siga as nossas redes sociais e fiquem por dentro de diversas outras notícias importantes.
Fontes utilizadas:
https://www.scielo.br/pdf/rarv/v38n4/16.pdf
http://conhecer.org.br/enciclop/2014b/AGRARIAS/avaliacao%20da%20perda%20de%20madeira.pdf
MACHADO, C.C. O setor florestal brasileiro. In: MACHADO, C.C. (Org.). Colheita florestal. Viçosa, MG: UFV, Imprensa Universitária, p. 16-45, 3ª ed. 2014.
Contribuíram com essa matéria:
Ricardo Ströher
Engenheiro Florestal
Coordenador de Colheita na AMATA
Bruno Ricardo Fernandes
Engenheiro Florestal
Coordenador de Colheita na CENIBRA
Ítalo Lima Nunes
Engenheiro Florestal
Coordenador Operacional do GT Colheita e Transporte Florestal