Perspectivas do setor florestal pós-pandemia do covid-19

 

Figura 1.: Área de árvores plantadas no Brasil por estado e por gênero, 2018. Fonte: IBÁ, 2019.

O Brasil é destaque mundial como o segundo país com maior área florestal, totalizando aproximadamente 497,91 milhões de hectares de floresta. Deste total, apenas 1,97% corresponde a florestas plantadas, sendo as principais espécies plantadas do gênero eucalipto, representando, aproximadamente, 7,4 milhões de hectares (SFB, 2019). Os estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e São Paulo destacam-se pela maior área plantada com espécies deste gênero, sendo destinado para os segmentos de celulose, papel e carvão vegetal, principalmente (Figura 1) (IBÁ,2019).

O impacto negativo causado pela pandemia de covid-19 na atividade econômica tem afetado diversos segmentos industriais, no entanto, o setor de base florestal, numa perspectiva de longo prazo, tem se mantido aquecido. O segmento de celulose e papel destaca-se com maior perspectiva positiva neste momento, devido ao maior consumo de produtos de higiene pessoal e limpeza (VALOR, 2020).

No setor siderúrgico, a expectativa era de redução na produção de insumos, porém a perspectiva ao longo da flexibilização do isolamento social tende a ser positiva. A retomada do consumo pelos segmentos automobilísticos e construção civil, além das ações mundiais que visam à redução das emissões de gases de efeito estufa serão ações promissoras para o setor. Em 2016, as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) pelo setor siderúrgico corresponderam a 7,9% de um total de 49,4 x 109 toneladas de CO2 equivalente (WRI, 2020).

No cenário mundial, as mudanças climáticas estão diretamente relacionadas com a emissão de GEE (Figura 2). grande parte das emissões por este setor está associada à utilização de carvão mineral e coque, tanto como termoredutor quanto para produção de energia elétrica, principalmente nos países europeus, asiáticos e EUA. No Brasil, único país que utiliza carvão vegetal pela indústria siderúrgica, de acordo com Sindifer (2019), apenas 20,18% da produção de ferro-gusa utiliza carvão vegetal e; nas aciarias, segundo IABr (2019), o carvão vegetal corresponde à 5% da matéria-prima termoredutora consumida para produção de aço, correspondendo a 1.545 x 10³ toneladas.

Visto a singela participação do carvão vegetal no segmento siderúrgico, a importância econômica e ambiental para o cultivo de florestas plantadas e os acordos mundiais firmados visando à redução das emissões de GEE, acredita-se no aumento da participação dos recursos florestais nas fontes renováveis de energia no país. Segundo o Marcelo Schimid (VALOR, 2020) a perspectiva do setor é de atrair “timos” (do inglês Timber Investment Management Organization) devido à busca por ativos florestais menores, uma vez que os grandes maciços disponíveis no país já foram negociados.

Além disso, pós-período de isolamento social, sobressairão às empresas que obtiverem maior agilidade na tabulação dos processos gerenciais durante a crise, adaptação à retomada de produção e, principalmente, disponibilidade de recursos florestais, ressaltando a característica perene das culturas florestais. As empresas parceiras do GT Ferroligas contam com todo apoio da Sociedade de Investigações Florestais (SIF/UFV) nos aspectos produtivos e tecnológicos em busca de superar os desafios perante a crise do covid-19, estando preparadas para retomada pós crise.

Figura 2.: Emissões de gases de efeito estufa acumuladas desde 1850. Fonte: WRI Brasil, 2019.
F
Referências

IABr – Instituto Aço Brasil; Anuário Estatístico 2019. Rio de Janeiro – RJ, 2019. 99p.

IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores; Relatório 2019, ano base: 2018. Brasília – DF; 2019, 80p.

SFB – Serviço Florestal Brasileiro; Florestas do Brasil em resumo: 2019. Brasilia – DF. 2019. 207p.

SINDIFER – Sindicato da Indústria de Ferro no Estado de Minas Gerais. Anuário Estatístico 2019 – ano base 2018. Belo Horizonte – MG, 2019. 26p.

VALOR; Fundos de investimento e celulose movimentam o setor. Valor Econômico. 2020. Disponível em:  <https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/04/22/fundos-de-investimento-e-celulose-movimentam-setor.ghtml> Acesso em: 22 de abril de 2020.

WRI Brasil; Os países que mais emitiram gases de efeito estufa nos últimos 165 anos. World Resources Institute. 2019.  Disponível em: <https://wribrasil.org.br/en/node/44208> Acesso em: 21 de Abril de 2020.

WRI; 4 charts explain greenhouse gas emission by countries and sectors. World Resources Institute. 2020. Disponível em: <https://www.wri.org/blog/2020/02/greenhouse-gas-emissions-by-country-sector> Acesso em: 21 de Abril de 2020.

 

Humberto Fauller de Siqueira

Engenheiro Florestal

Coordenador Operacional do GT Ferroligas