Importância do uso do carvão vegetal pelo setor de metalurgia e siderurgia e a balança comercial brasileira
Os setores de metalurgia e siderurgia apresentam expressiva importância no cenário econômico brasileiro, com ampla cadeia produtiva dos segmentos ligados à produção de ferro-gusa, metalurgia, usinagem e produção de manufaturados, tornando-se base de outras atividades, como a indústria automobilística, construção civil e bens de capital. Além dos insumos oriundos da extração mineral, estes setores demandam de fontes térmicas e redutoras para conversão dos minerais em produtos final.
Os principais insumos utilizados como termorredutores podem ser originados de fontes não renováveis e renováveis, por exemplo, o carvão mineral e o carvão vegetal, respectivamente. No Brasil, o carvão mineral consumido por este setor é 100% importado, devido às características das jazidas de carvão mineral no país não apresentarem qualidade ideal para esta finalidade. Já o carvão vegetal é produzido a partir de florestas plantadas de eucalipto, destacando o Brasil como único país a utilizar fonte renovável no setor siderúrgico.
O carvão mineral destinado a fins siderúrgicos e metalúrgicos é oriundo da hulha betuminosa (Figura 1), que detém maior teor de carbono devido ao elevado estágio de carbonificação atingido na sequência evolutiva. Este insumo apresenta teor de carbono e poder calorífico variando entre 80-93% e 7.000 – 8.500 kcal.kg-1, respectivamente (DNPM, 2007).
O carvão vegetal utilizado pelas empresas do setor de siderurgia e metalurgia é oriundo de florestas plantadas (Figura 2), correspondendo a 91% da produção em 2018 (IBÁ, 2019). No Brasil podemos destacar três principais polos consumidores de carvão vegetal, sendo um no estado do Mato Grosso do Sul; outro no norte,conhecido por Vale dos Carajás e; o maior parque siderúrgico do Brasil, localizado na região sudeste, com destaque o estado de Minas Gerais. O carvão vegetal apresenta teor de carbono, cinzas e poder calorífico variando, em média, entre 75-80%, 1% e 7.500-8.000 kcal.kg-1, respectivamente (PROTASIO et al., 2014).
O estímulo ao uso do carvão vegetal reflete ganhos econômicos, ambientais e sociais para o país. O setor de árvores plantadas em 2018 teve participação de 1,3% no PIB Nacional e 6,9% no PIB industrial e, responsável pela geração de R$12,8 bilhões em tributos; além disso, o setor estima que são gerados 3,8 milhões de empregos direto e indireto (IBÁ, 2019). Face a isto, o ganho ambiental torna-se significativo, reduzindo o consumo de fontes não-renováveis e emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Segundo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), em 2019, o Brasil importou 21.105.080 toneladas de carvão mineral (MDIC, 2020), representando gasto de US$ 2.883,29 milhões, causando prejuízo na balança comercial, sendo 11.232.000 toneladas de carvão metalúrgico (EPE, 2019). Apesar dos aspectos produtivos e de aplicação do carvão mineral, o uso do carvão vegetal vem como alternativa para contribuir significativamente à balança comercial brasileira.
Em busca de melhores índices de qualidade para o carvão vegetal, empresas do setor de ferroligas têm investido em pesquisas e desenvolvimento tecnológico. Neste sentido, o grupo temático de ferroligas, criado em parceria com a Sociedade de Investigações Florestais (SIF/UFV) e empresas do setor, tem buscado desenvolver projetos objetivando melhores indicadores de qualidade desde o plantio até a produção do carvão vegetal.
Referências
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral; Carvão Mineral. Agência Nacional de Mineração. 2007. Disponível em: <http://www.dnpm.gov.br/dnpm/publicacoes/serie-estatisticas-e-economia-mineral/outras-publicacoes-1/2-2-carvao> Acesso em 14 de abril de 2020
EPE – Empresa de Pesquisas Energéticas; Balanço Energético Nacional 2019, ano base 2018; Rio de Janeiro: EPE, 2019, 292p. Disponível em: < http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-377/topico-494/BEN%202019%20Completo%20WEB.pdf >
IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores; Relatório 2019, ano base: 2018. Brasília – DF; 2019, 80p.
MDIC – Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços; Carvão, mesmo em pó, mas não aglomerado. Comexstat. 2020. Disponível em: <http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis> Acesso em 14 de Abril de 2020
PROTÁSIO, T. P.; GOULART, S. L.; NEVES, T. A.; TRUGILHO, P. F.; RAMALHO, F.M. G.; QUEIROZ, L. M. R. S. B.; Qualidade da madeira e do carvão vegetal oriundos de floresta plantada em Minas Gerais. Pesquisa Florestal Brasileira. Colombo. v. 34, n.78, p. 111-124, 2014.
Humberto Fauller de Siqueira
Engenheiro Florestal
Coordenador Operacional do GT Ferroligas