BIOCHAR: Uma alternativa de aproveitamento de resíduos de base florestal
Biomassa residual pode ser entendida como toda matéria orgânica residual proveniente de fontes vegetais, animais, industriais, domésticas ou urbanas. Um exemplo são os resíduos da produção florestal, gerados após as atividades de colheita.
E o que podemos fazer com esse material gerado?
É certo que devemos otimizar os processos e operações florestais para que a quantidade de resíduo produzida seja a menor possível, mas, ainda assim, ela continuará existindo e devemos encontrar alternativas para aproveitar esse material residual de forma adequada, visando obter maior sustentabilidade. Portanto, o aproveitamento de resíduos pode ser visto como uma oportunidade de acessar novos mercados, de fazer um melhor gerenciamento dos resíduos, de reduzir problemas ambientais e de favorecer uma economia verde e circular, além de atender exigências legais, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Uma das alternativas para aproveitar a biomassa residual das atividades de base florestal é a geração de energia e de combustíveis por meio de processos como a pirólise lenta, a fast pyrolysis ou a gaseificação e o biochar é um dos produtos que pode ser gerado a partir dos resíduos florestais, seja como um coproduto, através do aproveitamento dos processos de conversão energética ou por meio da carbonização direta da biomassa residual.
O biochar é um material sólido obtido a partir da carbonização da biomassa em ambientes com limitação de oxigênio, sendo produzido por meio da decomposição térmica de materiais orgânicos em temperaturas menores que 700°C. Uma das principais finalidades desse produto é a aplicação no solo, funcionando como fertilizante e condicionante agrícola e a sua qualidade é afetada pelo processo de produção adotado (ex.: pirólise lenta ou gaseificação) e pelo material utilizado para a sua produção (ex.: madeira, bagaço de cana, esterco, cascas de arroz).
Frequentemente associado ao aumento de produtividade, recuperação de áreas degradadas e redução de emissões de gases do efeito estufa, o biochar apresenta potencial para melhorar as funções do solo e reduz emissões através da incorporação da biomassa que, de outra forma, se degradaria naturalmente e liberaria gases nocivos ao meio ambiente. Na última década, o interesse por esse produto aumentou significativamente, acompanhado do aumento do interesse pelos temas sequestro e créditos de carbono, em função das mudanças climáticas e também pela possibilidade de alternativas de melhoria da qualidade do solo em áreas cultiváveis ou com potencial de cultivo e melhoria da produtividade agrícola através do aproveitamento de resíduos.
Historicamente, o biochar está intimamente associado às “Terras Pretas de Índio”, que são solos de origem antropogênica, formados ao longo de milhares de anos em pequenas porções na Região Amazônica. A presença do carbono pirogênico resultante de antigas adições desse material ao solo pelos povos indígenas (ex.: fogueiras, restos de comida e ossos carbonizados) é responsável por boa parte da sua elevada produtividade. Esses solos são extremamente férteis e a associação com o biochar está relacionada às suas propriedades, visto que o biochar também tem a capacidade de melhorar a qualidade do solo, do ponto de vista químico, biológico e físico, além do significativo armazenamento de carbono. O termo biochar foi cunhado em 2005 por Peter Read, um pesquisador da Massey University na Nova Zelândia, para descrever a biomassa pirolisada finamente dividida preparada especificamente para melhoria do solo.
Para a produção de biochar, conhecer a composição química e física da biomassa é essencial, principalmente devido às suas aplicações no solo. O biochar auxilia na redução da lixiviação de nutrientes, limita a mobilidade de metais pesados e agroquímicos no solo, aumenta a capacidade de troca catiônica, melhorando a fertilidade do solo e reduzindo a necessidade de fertilizantes, contribui para a correção da acidez do solo, colabora para a retenção de água e para a aeração do solo, além do potencial de melhoria da microbiota. Também é importante reforçar o seu potencial como ferramenta de manejo ambiental, devido à sua capacidade de estocar carbono e de reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
O estoque de carbono é ainda mais interessante quando o biochar utilizado é proveniente de resíduos de produção como a de carvão vegetal ou associado a outras formas de produção de bioenergia, tornando a cadeia produtiva ainda mais limpa, do ponto de vista ambiental. Combinando a produção bioenergética com a captação dos gases produzidos durante a pirólise, o biochar se torna uma tecnologia limpa para sequestro de carbono, sendo muito atrativo para subsídios à produção energética e para a sua inclusão no mercado global de créditos de carbono.
Falando em carvão vegetal. no Brasil, o maior produtor e consumidor deste insumo no mundo, há grande potencial para aproveitamento dos seus resíduos, visto que no país são 9,93 milhões de hectares de árvores plantadas no país com, aproximadamente, 12% desta área destinada à produção de carvão vegetal e uma produção de, em média, 25% de finos, um material particulado originado das quebras do carvão vegetal durante seu processo produtivo, seu transporte e manuseio. Apesar de ser um grande desafio a ser vencido, que está associado à qualidade do produto, do processo e do manuseio, existe uma oportunidade de utilização desse material particulado gerado, transformando-o num produto com valor agregado, como o biochar, se tornando uma estratégia econômica com potencial de geração de novas receitas para produtores de carvão.
No entanto, alguns aspectos devem ser considerados como desafios e oportunidades, como a disponibilidade de matéria-prima, os custos de coleta, transporte e armazenamento, os custos de aplicação e de processamento, a valoração de serviços ambientais, a economia com a fertilização e correção do solo, a competição com outros usos da biomassa residual, a escala de aplicação, o desconhecimento do comportamento do biochar em plantios florestais, em função da escassez de estudos nesse tema, a heterogeneidade dos resíduos, a redução de passivos ambientais, dentre outros.
Considerando a agenda global em relação às mudanças climáticas, o biochar tem grande potencial para aplicação e estudo, principalmente no Brasil, onde a produtividade das florestas é elevada e a produção de carvão vegetal é a maior do mundo, além do crescente desenvolvimento tecnológico e conhecimento sobre o manejo e o aproveitamento dos recursos florestais.
Pensar em formas de otimizar o uso das florestas é essencial, aproveitando ao máximo o seu potencial, gerando novos produtos e novas receitas de maneira sustentável e eficiente!
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