Inovações tecnológicas para restauração

Já pensou como seria plantar árvores com o clique de um botão? Com certeza isso mudaria completamente a visão que nós temos hoje sobre o processo de restauração florestal. E é isso que o projeto Dendrocoria promete.

O nome, que remete às classificações de síndromes de dispersão tradicionalmente utilizadas, se refere a um projeto que surgiu em Barcelona, Espanha, onde um engenheiro de computação buscou desenvolver um veículo aéreo não tripulado capaz de distribuir sementes de forma automática. Segundo ele, o drone é capaz de liberar até meio milhão de sementes por voo e percorrer um hectare em apenas 10 minutos!

Em contramão do que vemos nos modelos tradicionais, a estrutura desse drone é feita de madeira, onde as peças são trabalhadas a laser e unidas através de presilhas. Essa escolha se deu porque a madeira é um material barato e fácil de ser trabalhado. Um sistema dispensador, com peças produzidas a partir de impressão 3D, é responsável por lançar as sementes, que são armazenadas em um reservatório plástico. A estrutura do drone conta com 6 motores e 6 hélices, pesa 1,8 kg, tem 1,5 metros de diâmetro e pode carregar até 10 kg de sementes.

Além da possibilidade de ser conduzido por um operador, também estão sendo desenvolvidas tecnologias para dar autonomia ao voo, de modo que as áreas a serem restauradas sejam preestabelecidas e o drone sobrevoe essas áreas distribuindo as sementes.

O projeto quer disponibilizar todo o design do drone para o público. Com hardware e software de acesso livre, a ideia é que ele seja replicado ao redor do mundo. O grande objetivo de usar essa tecnologia é conseguir restaurar grandes áreas com baixo custo. Veja a seguir o vídeo do criador falando sobre a Dendrocoria.

Aumentando a chance de sucesso

Uma das grandes preocupações em utilizar sementes na restauração é a probabilidade de que as sementes atinjam o solo, germinem e se estabeleçam com sucesso. Como neste caso as sementes não são enterradas, o projeto usa sementes peletizadas.

No processo de peletização, as sementes são misturadas com um conjunto de materiais nutritivos, protetores e aglutinantes. O resultado é uma camada ao redor das sementes que diminuem as chances de predação, ataque de microrganismos desidratação.

Esse tratamento busca garantir uma maior viabilidade da semente no solo, que irá germinar apenas quando encontrar condições favoráveis de umidade, luz e temperatura, além de um maior vigor, refletindo no maior sucesso de estabelecimento. Contudo, os materiais utilizados na peletização ainda precisam ser estudados mais profundamente para espécies nativas, pois cada semente pode apresentar um comportamento.

Por que não aqui?

A proposta do projeto Dronecoria é muito interessante, mas diversos fatores podem restringir sua aplicação no Brasil. Primeiramente, a resistência a projetos de semeadura direta deve-se em grande parte ao baixo índice de estabelecimento de sementes florestais, que encontram muitas barreiras em ambientes degradados, como baixa umidade e forte competição com gramíneas. Uma exceção é o uso da muvuca de sementes no Cerrado, que tem conseguido bons resultados dentro das condições e prazos em que é utilizada.

Além disso, muitos projetos de restauração tem a necessidade de encurtamento máximo das etapas para atender a prazos. Assim, o uso de mudas tem predominado porque as etapas iniciais de desenvolvimento das espécies nativas ocorrem no viveiro, ou seja, em um pequeno espaço para manejo e um ambiente passível de controle, encurtando o tempo e o esforço comparado ao que seria necessário para as sementes germinarem e se tornarem plântulas no campo.

Ainda assim, é tentador testar esse tipo de tecnologia para atender a outras diversas demandas na restauração. Uma delas seria uma eficiência da semeadura de adubos verdes e de mix destas com sementes de nativas. Imaginem o ganho operacional em conseguir espalhar essas sementes com apenas alguns minutos por hectare e em áreas de difícil acesso!

Mas as limitações precisam ser consideradas, basta lembrar que pouco adianta, por exemplo, lançar sementes com drones ou mesmo de forma manual num pasto de braquiária destinado à restauração florestal. Neste caso o controle prévio da gramínea exótica através de roçadas manuais ou com aplicação de herbicidas e o preparo do solo podem ser fundamentais para o sucesso da semeadura direta. Esse inclusive é um campo aberto para pesquisas, ao qual o Laboratório de Restauração Florestal da UFV pretende estar investindo esforços.

Outro uso potencial seria no manejo adaptativo de áreas em restauração com falhas, que poderiam ser identificadas por imagens e corrigidas através da atuação do drone. Ainda possui potencial no enriquecimento de áreas que já possuem dossel formado, o que permitiria uso de baixa diversidade no início do projeto, como foco em espécies de rápido recobrimento do solo e alta sobrevivência. Enfim, as possibilidades são muitas, basta pensar além! E aí, como você acha que este tipo de tecnologia poderia ser aplicado na sua empresa?

 

Luiz Henrique Cosimo

Engenheiro Florestal

Coordenador Operacional GT Restauração

 

 

Sebastião Venâncio Martins

Prof. Titular DEF/UFV 

Líder Técnico GT Restauração